A conquista do primeiro intercâmbio
Viajar é sempre bom? Eu acredito que sim. Porém, em alguns casos, precisamos de alguns anos para entender o quão boa e importante foi aquela viagem.
Eu até comecei a escrever uma Bienvenews sobre a Copa do Mundo da Confeitaria, mas eu recebi essa mensagem da minha melhor amiga assim que eu publiquei a última newsletter:
Então, eu decidi continuar a visitar o meu passado amoroso no texto de hoje.
Então, se você não leu o capítulo anterior dessa história, clique aqui para não ficar perdido.
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Eu fazia aulas de francês com a professora Priscila. Um a-n-j-o. Uma excelente professora e uma pessoa muito querida. Sabe quando você sai de casa para estudar superanimada? Era assim que eu me sentia para as aulas da Pri (apesar do sofrimento com a conjugação de verbos).
Bom, um dia, entre verbos e artigos definidos, a professora falou desse tal curso de francês em Cannes. Na hora, eu pensei: quero.
Eu nunca tinha saído do país; não tinha vontade de visitar a Disney; nunca tinha pensado em fazer faculdade fora; ir trabalhar nos Estados Unidos nunca passou pela minha cabeça; Paris nunca foi um sonho.
É claro que estudar francês em Cannes é legal e todo mundo tem vontade de fazer essa viagem, mas parece que naquele momento da minha vida, essa informação me tocou de uma maneira diferente.
Dessa época, eu lembro de ter apenas dois sonhos:
- conhecer a Inglaterra (por causa de um trabalho da escola)
- conhecer o Mont Saint-Michel (por causa de uma reportagem do Fantástico)
E aí vem uma parte da história que eu amo contar.
Você precisa entender que entre a minha vontade de viajar e eu efetivamente viajar, existia um precipício bem grande. Ouso dizer que esse precipício tem 1,90 de altura.
Não que o meu pai seja um precipício, mas a NÃO vontade dele em liberar essa viagem sim.
O estilo de educação do meu pai era (é) simples. Para qualquer pedido que a gente fizesse, a resposta era não. Simples, né?!
Sabe aquela máxima: o não eu já tenho?! Lá em casa, a gente era melhor amigo do não. O sim aparecia lá de vez em quando e depois de MUITA insistência.
Mas acho que o meu pai não contava com o fato de ter uma filha mais cabeça-dura que ele.
Eu sempre brinco que tenho um defeito que eu fantasio de qualidade: quando eu decido alguma coisa, a possibilidade de eu mudar de ideia é nula. Eu posso demorar 3 anos para tomar a decisão, mas a partir do momento que ela foi tomada, esqueça.
E foi o que aconteceu com essa viagem. Eu decidi que ia. Na minha cabeça, não existia a possibilidade de eu não ir. Eu só precisava convencer o meu pai…
Foi assim que, de agosto a outubro, eu atormentei o meu pai. Eu repito: atormentei.
Eu me tornei insuportável. Eu falava disso todos os dias. Em todas as refeições. Com diversas abordagens. Eu não me lembro bem, mas dramática que sou, eu devo até ter chorado algumas vezes.
E na mesma época, eu me inscrevi no vestibular para cursar relações internacionais. Mais uma desculpa perfeita para fazer essa viagem. (Lembrando que eu tinha 17 anos quando vim à França pela primeira vez e hoje, ao escrever essa história, eu tenho 32 - e sim, eu lembro de todos os detalhes porque tenho uma memória de 4 elefantes).
Durante um almoço de sábado, o meu pai olhou para mim e disse: tá bom, você vai viajar. Pare de me encher com essa história.
E como eu sempre fui muito adulta, teve até e-mail de confirmação.
O meu primeiro intercâmbio aconteceu então no começo de 2008. Durante 4 semanas, eu estudei francês e aproveitei para viajar um pouco. Além de passear pelo Sul da França, eu estive em Berlim, Roma e Paris.
Analisando hoje, eu não acho que eu tive um amor à primeira vista pela França e pelo mundo das viagens. A experiência foi muito legal, mas tem alguns detalhes que devem ser levados em consideração:
- só quem viaja acha viajar legal. Se você não é acostumado, é mais chato/cansativo que outra coisa;
- se for a primeira viagem internacional então, é ainda mais exaustivo (tanto para a mente quanto para o corpo);
- ter 17 anos, ser tímida e não falar a língua local é um enorme bloqueio.
Tudo é lindo, você descobre um mundo novo, mas sair da sua zona de conforto é desgastante. O cérebro recebe tanta informação nova que você fica perdido. Cada pequena ação que você faz demanda muita energia. Pedir um croissant é sofriiiido.
É claro que toda essa análise, a gente só faz depois de muitos anos e muita experiência. Você não gosta de ver o tempo passar e perceber que os nossos medos e vergonhas de adolescente desapareceram?
Eu falava bem pouco francês em 2008 e parecia que eu era muda durante o intercâmbio. Eu falava o mínimo do mínimo em francês, morria de vergonha, não conseguia me expressar. Agora, olha eu. Falo de maneira descontrolada e sem nenhuma vergonha em português E em francês.
Eu sei a sorte que foi ter feito essa viagem aos 17 anos. Eu descobri o mundo, a vida. Eu descobri o meu lugar no mundo! Eu acho que ser cabeça-dura nunca foi tão importante na minha vida.
Dois anos depois do primeiro intercâmbio, eu voltei para a França. Dessa vez, para ficar 6 meses (mas acabei ficando 13 meses !).
Obrigada por acompanharem mais essa visita ao meu passado. Eu espero que vocês terminem cada leitura com um sentimento leve e gostoso. Que vocês possam se inspirar um pouco com a minha trajetória ou que, pelo menos, vocês deem risada com o meu humor de tia do pavê.
A história continua…
Escrever é bom. Escrever sabendo que tenho muito leitor querido lendo é ainda melhor.
Um beijo da canceriana dramática e cabeça-dura que eu sou.
Menina, a surpresa é você ainda ter os emails depois de tanto tempo.
As histórias são muito gostosas de ler.
Bjus
Você faz a gente se sentir sua amiga, Bianca hahahaha
è até difícil racionalizar: sou um estranha pra ela... devo manter cautela nas interações hahahaha
aguardando ansiosa o próximo "episódio"...