Vivendo um sonho enrolarado e com muita conjugação de verbo
O que eu acho mais bonito das histórias de vida é o fato que a gente (ainda) tenta planejar certas coisas, mas o destino sempre mostra um caminho diferente (e melhor!).
Quando eu decidi que faria um segundo intercâmbio para a França e que ele duraria 6 meses, eu tinha certeza que ao final desse período, eu falaria francês de trás pra frente de tão fluente que eu seria. Eu não tinha pretensão de ser professora, mas queria ter um nível digno de professora.
Corta para a Bianca, depois de 3 meses na França, falando um francês MUITO fajuto. Mas muito fajuto mesmo.
Quantas vezes eu ia para o meu quarto mais cedo porque estava morrendo de dor de cabeça de ter que ficar falando com as pessoas.
É claro que eu conseguia me comunicar. Eu comecei a estudar francês em 2007 e o meu intercâmbio de 6 (no final 13) meses começou em junho de 2010. Nesse tempo todo, eu continuei estudando francês em Curitiba.
Mas é isso. Eu conseguia me comunicar. Eu não conseguia ter uma conversa fluida. Eu ficava conjugando os verbos na minha cabeça para falar e eu não era eu em francês. Isso é horrível. Você se acha uma pessoa minimamente inteligente, capacitada e engraçada, mas você simplesmente não consegue mostrar isso porque você não fala a língua.
É por esse motivo que o meu intercâmbio de 6 meses acabou durando 13 meses.
Eu, no alto da minha maturidade de 20 anos, pensei:
Bom. Eu já tranquei a faculdade para fazer esse intercâmbio. Eu já estou aqui. Já que tá que vá. É melhor eu prolongar esse intercâmbio porque provavelmente depois que eu voltar para o Brasil, meu pai nunca mais vai pagar nem uma excursão para Florianópolis para mim.
Meu pai... Coitado. A cada episódio da Bienvenews com a minha história, eu fico pensando: deve ser muito chato ter uma filha cabeça-dura…
Esse intercâmbio surgiu porque eu descobri a possibilidade de pedir uma bolsa de estudos lá na escola do meu primeiro intercâmbio em 2008. Mesma escola com a qual eu trabalho hoje. Mesma escola que não tem mais essa possibilidade de bolsa (prefiro já avisar antes que eu comece a receber candidaturas - risos nervosos).
Eu sou formada em Relações Internacionais, mas nunca entendi muito bem por que eu escolhi esse curso. Então, depois de 3 semestres de faculdade, eu estava bem perdida (como todo universitário aos 20 anos) e me candidatei para a bolsa. Eu passei! Eu moraria na escola, teria as refeições, o curso de francês e em troca, eu teria que trabalhar na biblioteca. Legal, né?!
Eu só precisaria de um dinheiro para “viver” e comprar umas besteiras que a gente compra quando tem 20 anos.
Eu só precisava convencer meu pai... Uma segunda vez…. Confesso que eu não lembro muito bem como foi. Mas eu enchi tanto as paciências dele para o primeiro intercâmbio, que esse foi mais tranquilo.
Eu parti para a França em 13 de junho de 2010. E eu não preciso olhar para o calendário para achar a data. Esse dia é daqueles que a gente não esquece nunca.
Como o “já que tá que vá” faz parte da minha filosofia de vida, eu passei alguns dias em Paris antes de descer para Cannes e começar oficialmente o meu intercâmbio.
A minha vida era mais ou menos assim:
- aula de francês de segunda à sexta, das 09h às 12h;
- 2 vezes na semana, eu trabalhava na biblioteca;
- 1 ou 2 finais de semana por mês, eu trabalhava no brunch organizando tudo e servindo os alunos;
- no verão, se eu tivesse 30 minutos entre o almoço e o trabalho, eu estava na praia tomando sol;
- no meu tempo livre, tinha festa, viagens pela Europa, praia, festa, viagens e quando sobrava tempo no tempo livre, tinha mais viagem.
É óbvio que depois de 3 meses, eu quis ficar mais, né?! Mas eu juro que a ideia principal era realmente aprender francês.
Não queria que esse episódio da minha história com a França fosse um freio para quem estuda ou quer estudar francês. Não é nada disso. A língua francesa não é um bicho de 7 cabeças.
Mas eu, como já disse, no auge da minha maturidade de 20 anos, achei que eu alguns meses aquele “assunto” estaria encerrado. Que eu falaria francês muito bem, sem sotaque e que eu poderia dar aula de francês dormindo de tanto que eu saberia.
Diferente de um freio, gostaria que o episódio de hoje fosse um empurrão. Quanto mais tempo você demorar para começar, mais tempo você vai demorar para chegar lá.
E fique tranquilo porque o “chegar lá” vai mudar de rota muitas vezes. Mas um dia, quando você menos esperar, você vai sentir muito orgulho de ter começado a sua caminhada.
Eu demorei mais alguns anos para falar francês no nível que eu queria. Eu nunca perdi o sotaque que eu achei que perderia e demorei ainda mais tempo para aceitar isso.
Mas hoje, eu estou aqui. Eu tenho um nível de francês que a maioria dos franceses não tem. Na escrita, você não vê um acento perdido ou um verbo conjugado errado. Quando eu falo, eu uso tantas expressões do cotidiano e da cultura francesa que parece que eu nasci aqui.
A próxima parte da história tem menos festa e menos viagem pela Europa. Nas cenas dos próximos capítulos, eu tive a oportunidade de começar a trabalhar com a língua francesa e com as viagens. O capítulo é longo, tem muita coisa que eu não posso (e não quero) contar. Mas nós estamos em 2023, ano que marca os 10 anos da minha trajetória profissional com a França. Vou consultar a minha advogada, a minha melhor amiga e a minha psicóloga imaginária para saber exatamente o que eu contarei nos próximos capítulos.
sabe aquela fofoca de familia que escutamos ao redor da mesa, tomando um cafezinho? assim que estou me sentindo!!!! Esperando os próximos episódios, que se for na linha seriado Netflix, ja teve intriga (vc falando do se pai rsrsrsrs), teve drama (sua saga em entender que não perderia o sotaque), agora falta algumas cenas picantes e romance rsrsrsrsr, mas conhecendo a Bianca que conheço, super discreta, estas cenas ficarão na imaginação. Adoro como vc escreve.
Adorando sua trajetória! Parabéns pela determinação!